sexta-feira, 21 de agosto de 2009

NOVAS DESCOBERTAS NA QUÍMICA

PRÊMIO NOBEL DE QUÍMICA - 2003
Os americanos Peter Agre (Johns Hopkins University School of Medicine in Baltimore, Maryland) e Roderick MacKinnon (Molecular Neurobiology and Biophysics at the Rockefeller University in New York) foram os ganhadores do Prêmio Nobel de Química 2003 pelas suas descobertas a respeito de canais em membranas celulares. Peter Agre desenvolve as suas pesquisas sobre canais para água em células humanas e Roderick MacKinnon sobre estudos da estrutura e mecanismos dos canais para íons. Este ano o prêmio ilustra como a bioquímica contemporânea, nos níveis atômicos, são fundamentais para a compreensão dos processos básicos da vida; não só de humanos como de bactérias e plantas. Íons, dependendo de sua concentração, tamanho e mobilidade possuem a propriedade de passar de fora para dentro da célula e vice-versa. Em 1991 o professor Agre descobriu um caminho em que moléculas de água também passam de dentro para fora das células. A água é o mais abundante componente de todos os organismos vivos, portanto células e tecidos são importantes para absorver ou liberar água. A água atravessa as membranas da célula por dois caminhos: por difusão através da dupla camada lipídica e através de canais para água chamada de Aquaporins. Um destes estudos envolve as propriedades da condutância iônica dos Aquaporins. Estas pesquisas identificam membros da família Aquaporin de proteínas que são capazes de conduzir íons juntos a água. Estas novas descobertas são fundamentais para muitos outros estudos bioquímicos, fisiológicos e genéticos. Estes estudos são importantes para o entendimento de doenças do rim e muitas outras doenças, tais como o câncer. Mutações no gene aquaporin-2 causam diabetes hereditárias em humanos. Mutações no aquaporin-0 gene desenvolvem cataratas congênitas. O professor MacKinnon tem utilizado os princípios da eletricidade em biologia em estudos da análise da função e estrutura destes canais para íons. Estes canais funcionam como as enzimas que tem seu substrato específico: Estes canais somente permitem seletivamente difundir através de seus poros íons tais como potássio, sódio, cálcio e cloreto. Em muitos laboratórios que usam análises sobre mutações foram demonstrados que um segmento específico de amino-acidos pode ser uns dos responsáveis pela seletividade do potássio em nível celular. A cristalografia de raio-X é também muito usada para a compreensão destas seletividades. Sem estas seletividades, não serão possíveis as existências de sinais elétricos produzidos na biologia. Logo, estes canais para íons são importantes no controle do ritmo cardíaco, no controle da secreção de hormônios na corrente sanguínea e geram impulsos elétricos no sistema nervoso.

Prof. Pércio A. M. Farias
Departamento de Química da PUC-Rio



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sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A QUÍMICA E ASSUNTOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS

A Indústria Química no
Contexto da Ecologia Industrial

Biagio F. Gianneti e Cecilia M. V. B. Almeida
Universidade Paulista
LaFTA – Laboratório de Físico-Química Teórica e Aplicada
R. Dr. Bacelar, 1212, CEP 04026-002, São Paulo, Brasil



Introdução
A Ecologia Industrial é uma nova abordagem que, com menos de vinte anos, já é amplamente reconhecida devido à forma sistêmica com que analisa o sistema industrial, seus produtos, resíduos e as interações destes com o meio ambiente. A indústria química é a maior responsável pela dispersão de substâncias tóxicas no meio ambiente e torna-se urgente e necessário promover mudanças na for- ma de tratar os problemas ambientais [1]. Remediar e controlar os poluentes não é mais suficiente, deve-se direcionar os esforços no sentido de reduzir e, principalmente, prevenir o descarte de substâncias nocivas ao ambiente.

O conhecimento de tecnologias amigáveis ao meio ambiente e estratégias para prevenir e minimizar o dano ambiental causado pelos processos químicos tem ganho considerável importância, em especial no que concerne às novas habili- dades exigidas dos engenheiros químicos. A integração destas tecnologias e estratégias ao curriculum dos engenheiros químicos é, hoje, essencial e o aprendizado das novas abordagens que vêm surgindo nas últimas décadas deve ser distribuído por toda a grade curricular da Engenharia Química.

Neste contexto, o curso de Engenharia Química deverá incorporar os seguintes objetivos:

(1) conscientizar os estudantes quanto ao custo real da operação de um processo que descarta poluentes no ambiente, tanto o custo econômico como o custo ambiental; o que significa não somente considerar o custo de tratamento ou o custo relativo ao atendimento da legislação vigente, mas também o custo dos recursos da natureza utilizados na produção e o trabalho da natureza para a absorção/degradação dos resíduos;

(2) apresentar as principais estratégias para minimizar/evitar impactos devidos a um determinado processo químico;

(3) oferecer a oportunidade de projetar e analisar processos que utilizam tecnologias amigáveis1 ao meio ambiente, como as que visam a eliminação dos poluentes e o uso de matérias primas renováveis.

O sistema industrial vem respondendo ao problema da poluição com soluções que vão desde o simples controle dos efluentes, passando por programas de prevenção à poluição, pelos conceitos de produção mais limpa e eco-eficiência, até a proposta mais refinada de estudar a interação do sistema industrial com o meio ambiente. O diagrama abaixo mostra, simplificadamente, as várias transformações pelas quais a forma de tratar materiais, energia e resíduos vem passando nas últimas décadas. Apesar de não haver uma seqüência temporal real, pode-se traçar um caminho para ilustrar estas mudanças.



Fig. 1. Algumas respostas do sistema industrial aos problemas ambientais.

As abordagens preventivas mostraram que se pode obter benefício econômico e ao mesmo tempo minimizar a poluição [2]. As práticas de produção mais limpa, eco-eficiência e prevenção à poluição estão, atualmente disseminadas por várias empresas e têm como principal característica a avaliação detalhada de todas as etapas de um processo a fim de otimizá-lo.

__________________________

1 A definição de “tecnologias ambientalmente amigáveis” é ainda controversa e é preferível utilizar “tecnologia mais amigável”. De forma geral, pode-se definir como tecnologia mais amigável ao meio ambiente aquela que substitui tecnologias convencionais de fabricação de forma a reduzir o impacto ambiental de determinado processo ou produto.

A Ecologia Industrial




A idéia de otimizar processos, categorizar todas as operações de uma indústria e acompanhar todos os passos de fabricação de um produto acaba, inevitavelmente, levando a um conhecimento profundo de cada sistema, permitindo, principalmente, o planejamento de ações em longo prazo. Por outro lado, este conhecimento detalhado do sistema leva à análise das interações do produtor com outras empresas, sejam elas fornecedores, consumidores de subprodutos ou consumidores finais.

Neste contexto, a analogia entre sistemas industriais e ecossistemas vêm ganhando força e levando à considerações sobre as interações do sistema com o meio ambiente. Apesar de existirem algumas reservas relativas à metáfora biológica, os conceitos que utilizam esta metáfora - Metabolismo Industrial [3] e Ecologia Industrial [4] - contribuem, de forma significativa para um avanço diante do problema da poluição. A analogia com os ecossistemas permite um passo além: fechar os ciclos de materiais e energia com a formação de uma Eco-rede (Fig. 2) que “imita” os ciclos biológicos fechados. A Ecologia industrial propõe, portanto, fechar os ciclos, considerando que o sistema industrial não apenas interage com o ambiente, mas é parte dele e dele depende.



Fig. 2. Representação de uma Eco-rede, mostrando a otimização dos fluxos de materiais/energia devida à formação da rede. Os fluxos de produto não estão representados na figura, mas somente aqueles que caracterizam uma eco-rede.

A Ecologia Industrial é tanto um contexto para ação como um campo para pesquisa. O desenvolvimento desta abordagem pretende oferecer um quadro conceitual para o interpretar e adaptar a compreensão do sistema natural e aplicar esta compreensão aos sistemas industriais de forma a alcançar um padrão de industrialização que seja não só mais eficiente, mas também intrinsecamente ajustado às tolerâncias e características do sistema natural [5].

Esta abordagem implica em (1) aplicar a teoria dos sistemas e a termodinâmica aos sistemas industriais, (2) definir os limites do sistema incorporando o sistema natural e (3) otimizar o sistema. Neste contexto, o sistema industrial é planejado e deve operar como um sistema biológico dependente do sistema natural. O sistema industrial é considerado um sub-sistema da biosfera, isto é, uma organização particular de fluxos de matéria, energia e informação. Sua evolução deve ser compatível com o funcionamento de outros ecossistemas. Parte-se do princípio de que é possível organizar todo o fluxo de matéria e de energia, que circula no sistema industrial, de maneira a torná-lo um circuito quase inteiramente fechado [6]. Neste contexto, uma abordagem sistêmica é necessária para visualizar as conexões entre o sistema antropológico, o biológico e o ambiente. Pode-se dizer que o principal objetivo da Ecologia Industrial é transformar o caráter linear do sistema industrial para um sistema cíclico, em que matérias primas, energia e resíduos sejam sempre reutilizados.

A Ecologia Industrial e a Indústria Química
A maior aproximação da indústria química do conceito de Ecologia Industrial é a Química Verde. Da forma como foi desenvolvida, a Química Verde é ainda um conceito local tanto no espaço como no tempo [7]. O objetivo da Química Verde tem sido o de utilizar técnicas inovadoras para minimizar de imediato impactos ambientais causados por determinados processos. O alcance destas técnicas tem se limitado às vizinhanças da fábrica, ou seja, em minimizar as emissões de substâncias nocivas resultantes do processo em questão. Este tipo de ação pode ser associado à práticas de prevenção à poluição ou de produção mais limpa e é essencial no caminho da Ecologia Industrial. Entretanto, impactos ambientais causados localmente podem permanecer atuantes por um longo período de tempo e, também de espaço. Desta forma, se há intenção de se alcançar a sustentabilidade, deve-se incluir as interações com o ambiente por períodos maiores de tempo e considerar o espaço mais abrangente que as vizinhanças da empresa (Fig. 3). Ou seja, deve-se levar em conta não só o processo em si, mas também a implantação do processo e sua operação [8].



Fig. 3. Relação dos problemas ambientais com as escalas de tempo e espaço levando em consideração a sustentabilidade do sistema.

Para expandir a Química Verde sob os conceitos da Ecologia Industrial deve-se adotar uma análise sistêmica tanto dos produtos como dos processos [9]. Muitas das ferramentas desenvolvidas para a avaliação de manufaturas e produtos podem ser adaptadas para a indústria química. Entre estas, podem ser citadas a Avaliação de Ciclo de Vida (LCA, Life Cycle Assessment) e o Projeto para o Ambiente (DfE, Design for Environment).

A Avaliação de Ciclo de Vida é uma ferramenta que permite avaliar processos e produtos. O objetivo é identificar as fontes diretas e indiretas de geração de resíduos e/ou poluentes associados a um processo ou produto. A análise do produto deve ser sempre acompanhada da análise do processo (Fig. 4) para que, sob a visão sistêmica da Ecologia Industrial as interações da planta com o meio ambiente possam ser compreendidas tanto em sua dimensão espacial como temporal. Observa-se na figura 4 que a Avaliação do Ciclo de Vida do Produto considera a quantidade de reservas retiradas do meio ambiente para a fabricação do produto, a quantidade de material descartado, a possível reciclagem do produto após o uso e as emissões (sólidas, líquidas ou gasosas) que podem ser geradas em cada etapa da vida do produto. A Avaliação de Ciclo de Vida do processo tem caráter temporal e leva em conta o impacto causado pela construção da planta, aquele devido à sua operação e, finalmente, o impacto relacionado à sua desativação. A avaliação da etapa de operação permite visualizar pontos onde procedimentos relativamente simples podem minimizar a emissão de poluentes. Por exemplo, identificar possibilidades para reduzir e/ou eliminar o uso de solventes nas operações de limpeza e manutenção ou instalar detetores para identificar vazamentos de substâncias gasosas. Pode-se mostrar o efeito da desativação de uma planta e da recuperação das áreas de estações de tratamento e armazenamento de substâncias tóxicas.



Fig. 4. Representação da Análise de Ciclo de Vida de uma indústria química considerando na horizontal o ciclo de vida do produto e na vertical, o ciclo de vida da planta industrial.



Fig. 5.Ciclo de Vida da produção de metanol.

Um exemplo do ciclo de vida de um produto da indústria química pode ser visualizado no fluxograma da figura 5, que mostra as etapas de fabricação e utilização do metanol e sua interação com o meio ambiente. No ciclo de vida do metanol pode-se observar a contribuição do meio ambiente, onde se pode considerar a água utilizada para a irrigação ou a água da chuva necessária para o crescimento da biomassa e a área de terreno necessária para este crescimento e seu reflorestamento. Nesta fase ocorre principalmente a emissão de O2, mas podem ser, também incluídos, fertilizantes, herbicidas ou pesticidas eventualmente utilizados no cultivo da biomassa. Na etapa de produção do álcool, pode-se observar a utilização de matérias primas (biomassa e CaO) e água, a geração de um subproduto (fertilizante que poderia ser reutilizado na primeira etapa), emissão de CO2 e enxofre. A Avaliação do Ciclo de Vida do metanol inclui seu uso, onde são consideradas a emissão de CO2 e o uso de água.

Neste tipo de avaliação um balanço de massa (e, também, de energia) permite conhecer profundamente todas as etapas de um processo e suas interações com o meio ambiente. Além disto, todas as interações do produto com o ambiente, desde a extração de matérias primas para sua fabricação até seu descarte podem ser avaliadas, alteradas e melhoradas com o fechamento de ciclos, a utilização de matérias primas renováveis, a diminuição do transporte de material entre as etapas de vida do produto, o uso de processos ambientalmente benignos (Química Verde) e a consideração da etapa de uso no planejamento do processo e do produto.

Outra ferramenta da Ecologia Industrial que pode ser utilizada na indústria química é o Projeto para o Ambiente (Design for the Environment - DfE) que examina todo o ciclo de vida do produto e propõe alterações no projeto de forma a minimizar o impacto ambiental do produto desde sua fabricação até seu descarte. Incorporando o desenvolvimento do produto em seu ciclo de vida, o DfE pode integrar a preocupação com o meio ambiente em cada etapa do ciclo de vida do produto, de forma a reduzir os impactos gerados durante este ciclo. No caso da indústria química deve-se ressaltar que, apesar de o impacto ambiental gerado pelo produto, principalmente por seu descarte, ser bastante visível, o impacto ambiental gerado pelo processo é geralmente maior [10]. Processos bem sucedidos tendem a manter-se em operação por muitos anos e serem utilizados para a fabricação de vários produtos. Como exemplo, pode-se citar a fabricação do papel. Enquanto o produto (papel) não causa impacto ambiental considerável, mesmo quando descartado inadequadamente, o processo de fabricação do papel inclui a extração de madeira, o uso de grandes quantidades de água e a emissão de uma grande quantidade de poluentes gasosos. Todas estas etapas resultam em profundos efeitos no ambiente.

O projeto de um processo sob a ótica da Ecologia Industrial deve prever a utilização de subprodutos e resíduos por outros processos. Além disto, deve considerar:

1. a redução ou eliminação do uso de substâncias tóxicas, inflamáveis e explosivos,

2. incluir fluxos de reciclagem sempre que possível,

3. escolher os materiais mais adequados, naturais ou não, com base na Avaliação de Ciclo de Vida,

4. considerar o consumo de energia, maximizando o uso de fontes renováveis de energias,

5. usar o mínimo de material e evitar a utilização de materiais escassos,

6. reduzir ou eliminar o armazenamento e emissão de materiais perigosos,

7. reduzir ou eliminar o uso de materiais ligados à degradação da camada de ozônio e às mudanças climáticas durante o ciclo de vida.

A utilização do DfE pela indústria química permite não só otimizar processos químicos convencionais empregando tecnologias amigáveis ao meio ambiente, mas também interligar diferentes processos com a finalidade de transformar resíduos em subprodutos.

Com o emprego das ferramentas da Ecologia Industrial pode-se conhecer profundamente um processo. Nesta etapa, práticas de produção mais limpa e prevenção à poluição devem melhorar o desempenho do processo. Entretanto, a partir do detalhamento do processo, surge a oportunidade de utilizar as abordagens mais sofisticadas que estão sendo desenvolvidas nas últimas décadas.

A utilização dos conceitos da Ecologia Industrial pode trazer grandes vantagens para a indústria química. A abordagem sistêmica permite visualizar que produtos e processos amigáveis ao ambiente não são somente aqueles que foram produzidos a partir de técnicas inovadoras que minimizam o impacto imediato causado pela fabricação.

Sendo a Ecologia Industrial uma abordagem relativamente nova, será necessário o desenvolvimento de rigorosa fundamentação científica que sustente as decisões dos projetos e a aplicação de tecnologias voltadas para o meio ambiente. Os avanços nesta área dependerão do desenvolvimento teórico, de modelos quantitativos, pesquisa empírica e experimentos de campo. Além disto, para o caso da indústria química é extremamente importante que o conhecimento destes conceitos e ferramentas seja de fácil acesso aos engenheiros químicos.

A integração destes conceitos com o curriculum de Engenharia Química poderá acelerar as mudanças necessárias neste setor no que tange à interação da indústria química e meio ambiente.


Referências bibliográficas
[1] P. T. Anastas e C. A. Farris, American Chemical Society, ACS Sympsium Series, 577 (1994) 123.

[2] PNUMA, Producción más Limpia, um paquete de recursos de capacitación, Fev. 1999.

[3] R.U. Ayres, International Social Science Journal, 121 (1989) 23.

[4] R. Frosch e N. Gallopoulos, Scientific American 261(1989) 144.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL - LUCRO DE ALGUNS E PREJUÍZO DE MUITOS

O lucro de alguns com degradação ambiental é prejuízo de todos





O final do ano de 2008 encerrou com notícias positivas para a Química e a ciência brasileira e incertezas para todos.

A queda vertiginosa do crescimento da economia mundial afetará a produtividade do mundo e a competição entre as economias pressionará salários para baixo, haverá diminuição do consumo e dos investimentos e, consequentemente, desaceleração do crescimento econômico. O pânico tomou conta das empresas que começam a demitir em massa. As indústrias químicas não estão isentas deste turbilhão mundial e como têm um peso significativo no PIB brasileiro, com certeza também serão bem afetadas. Apesar das notícias afirmarem que a crise financeira vem de fora, cada um dos muitos afetados por ela sente bem o seu peso no dia-a-dia.

Por outro lado, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (os INCTs) disponibilizarão, aos melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência, recursos da ordem de R$ 600 milhões. Além de agregar os pesquisadores mais produtivos em temas relevantes para a ciência, o programa INCT conseguiu reunir as agências de fomento CNPq, BNDES, FAPs, CAPES, FINEP e empresas, como a Petrobras. Tudo isso de forma articulada nas áreas estratégicas para o desenvolvimento do país. O Prof. Jailson B. Andrade, editor do Journal of the Brazilian Chemical Society, utilizou um termo bem químico para definir este empreendimento: "Trata-se da maior ação concertada de investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação envolvendo uma grande rede, descentralizada, com sedes em todas as regiões do país. O futuro chegou!".1

Outro ponto positivo que gostaríamos de ressaltar, foi a escolha do ano de 2011 como o Ano Internacional da Química pela a 63ª Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), realizada em 30 de dezembro de 2008. A proposta foi encaminhada pela IUPAC à ONU pela delegação da Etiópia com a sub-inscrição de 35 países. As comemorações serão coordenadas pela IUPAC e UNESCO. A escolha deste ano não foi ao acaso, pois se trata do 100º aniversário do Prêmio Nobel em Química para Marie Sklodowska Curie (1867-1934).

Desta ação da ONU desprendem-se duas considerações importantes: os reconhecimentos das contribuições das mulheres para a Ciência e da Química para o bem-estar da humanidade.

Marie Sklodowska Curie recebeu da Real Academia Sueca de Ciências dois Prêmios Nobel. O primeiro foi agraciado em Física em 1903, junto Pierre Curie e Henri Becquerel, pelos estudos dos fenômenos de radiação, descobertos por Becquerel. Este foi o primeiro Prêmio Nobel concedido a uma mulher, mostrando que a ciência não era uma atividade exclusiva dos homens. Oito anos mais tarde, em 1911, recebeu o segundo Nobel, desta vez em Química, pela descoberta dos elementos Rádio e Polônio e sobre a natureza dos seus compostos. Foi a primeira pessoa a receber dois Prêmios Nobel em campos diferentes. Entretanto, neste mesmo ano a Academia de Ciências de Paris rejeitou sua admissão, por apenas um voto. Ainda estava muito longe, e permanece assim até hoje, das mulheres participarem dos centros e núcleos de decisões, dos escalões superiores na ciência,2 apesar ser bem conhecido que em muitas áreas científicas o aumento de produtividade foi devido às suas importantes contribuições. Os tempos mudam e cada vez mais as mulheres ocupam cargos antes só ocupados pelos homens, como é o caso da Sociedade Brasileira de Química, que na sua breve história pode se orgulhar de ter uma mulher presidente.

A proclamação deste ano Internacional da Química traz uma responsabilidade enorme para a Química praticada no mundo. Uma parte minoritária da população sabe que a Química é responsável por produtos que envolvem a produção de alimentos, medicamentos, combustíveis e inúmeros materiais manufaturados utilizados no cotidiano. Porém, a percepção de uma grande maioria é que a Química está envolvida em todos os tipos de agentes poluidores e devastadores do meio ambiente, nos explosivos, nas guerras químicas, nos agrotóxicos, ou seja, em todos os malefícios da humanidade. Portanto, estas comemorações devem ser aproveitadas para aumentar a visibilidade e sensibilidade do público sobre os seus aspectos positivos e que ela pode vencer os desafios de um desenvolvimento sustentável. Os paradigmas atuais e importantes para a humanidade são as futuras fontes de energia e a produção de alimentos para a crescente população do mundo. A Química está no centro destes dois paradigmas.

As empresas químicas fazem parte do conjunto da sociedade que tem como objetivo primordial promover o bem-estar, criando soluções para os problemas que ainda não foram resolvidos e devem estar inseridos num contexto de desenvolvimento socioeconômico sustentável. É real e urgente a necessidade de processos mais limpos que utilizem novas fontes energéticas e reagentes mais baratos, menos tóxicos, com diminuição da quantidade de rejeitos gerados, mesmo que em algumas situações os processos que geram menos resíduos sejam mais caros. As políticas industriais devem estar em consonância com as questões ambientais.

A concepção de uma Química limpa e ambientalmente mais recomendável passa necessariamente pela vontade política dos países que devem associar os aspectos econômicos com educação ambiental de qualidade, substituição de combustíveis fósseis e de processos químicos ultrapassados. Porém, o mais importante de uma política industrial é que ela perceba que o lucro de alguns com degradação ambiental é prejuízo de todos.



Suzana I. Córdoba de Torresi
Vera L. Pardini
Vitor F. Ferreira
Editores de QN

O LUCRO DE ALGUNS COM DEGRADAÇÃO AMBIENTAL É PREJUÍZO DE DE TODOS

O lucro de alguns com degradação ambiental é prejuízo de todos





O final do ano de 2008 encerrou com notícias positivas para a Química e a ciência brasileira e incertezas para todos.

A queda vertiginosa do crescimento da economia mundial afetará a produtividade do mundo e a competição entre as economias pressionará salários para baixo, haverá diminuição do consumo e dos investimentos e, consequentemente, desaceleração do crescimento econômico. O pânico tomou conta das empresas que começam a demitir em massa. As indústrias químicas não estão isentas deste turbilhão mundial e como têm um peso significativo no PIB brasileiro, com certeza também serão bem afetadas. Apesar das notícias afirmarem que a crise financeira vem de fora, cada um dos muitos afetados por ela sente bem o seu peso no dia-a-dia.

Por outro lado, os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (os INCTs) disponibilizarão, aos melhores grupos de pesquisa em áreas de fronteira da ciência, recursos da ordem de R$ 600 milhões. Além de agregar os pesquisadores mais produtivos em temas relevantes para a ciência, o programa INCT conseguiu reunir as agências de fomento CNPq, BNDES, FAPs, CAPES, FINEP e empresas, como a Petrobras. Tudo isso de forma articulada nas áreas estratégicas para o desenvolvimento do país. O Prof. Jailson B. Andrade, editor do Journal of the Brazilian Chemical Society, utilizou um termo bem químico para definir este empreendimento: "Trata-se da maior ação concertada de investimentos em Ciência, Tecnologia e Inovação envolvendo uma grande rede, descentralizada, com sedes em todas as regiões do país. O futuro chegou!".1

Outro ponto positivo que gostaríamos de ressaltar, foi a escolha do ano de 2011 como o Ano Internacional da Química pela a 63ª Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU), realizada em 30 de dezembro de 2008. A proposta foi encaminhada pela IUPAC à ONU pela delegação da Etiópia com a sub-inscrição de 35 países. As comemorações serão coordenadas pela IUPAC e UNESCO. A escolha deste ano não foi ao acaso, pois se trata do 100º aniversário do Prêmio Nobel em Química para Marie Sklodowska Curie (1867-1934).

Desta ação da ONU desprendem-se duas considerações importantes: os reconhecimentos das contribuições das mulheres para a Ciência e da Química para o bem-estar da humanidade.

Marie Sklodowska Curie recebeu da Real Academia Sueca de Ciências dois Prêmios Nobel. O primeiro foi agraciado em Física em 1903, junto Pierre Curie e Henri Becquerel, pelos estudos dos fenômenos de radiação, descobertos por Becquerel. Este foi o primeiro Prêmio Nobel concedido a uma mulher, mostrando que a ciência não era uma atividade exclusiva dos homens. Oito anos mais tarde, em 1911, recebeu o segundo Nobel, desta vez em Química, pela descoberta dos elementos Rádio e Polônio e sobre a natureza dos seus compostos. Foi a primeira pessoa a receber dois Prêmios Nobel em campos diferentes. Entretanto, neste mesmo ano a Academia de Ciências de Paris rejeitou sua admissão, por apenas um voto. Ainda estava muito longe, e permanece assim até hoje, das mulheres participarem dos centros e núcleos de decisões, dos escalões superiores na ciência,2 apesar ser bem conhecido que em muitas áreas científicas o aumento de produtividade foi devido às suas importantes contribuições. Os tempos mudam e cada vez mais as mulheres ocupam cargos antes só ocupados pelos homens, como é o caso da Sociedade Brasileira de Química, que na sua breve história pode se orgulhar de ter uma mulher presidente.

A proclamação deste ano Internacional da Química traz uma responsabilidade enorme para a Química praticada no mundo. Uma parte minoritária da população sabe que a Química é responsável por produtos que envolvem a produção de alimentos, medicamentos, combustíveis e inúmeros materiais manufaturados utilizados no cotidiano. Porém, a percepção de uma grande maioria é que a Química está envolvida em todos os tipos de agentes poluidores e devastadores do meio ambiente, nos explosivos, nas guerras químicas, nos agrotóxicos, ou seja, em todos os malefícios da humanidade. Portanto, estas comemorações devem ser aproveitadas para aumentar a visibilidade e sensibilidade do público sobre os seus aspectos positivos e que ela pode vencer os desafios de um desenvolvimento sustentável. Os paradigmas atuais e importantes para a humanidade são as futuras fontes de energia e a produção de alimentos para a crescente população do mundo. A Química está no centro destes dois paradigmas.

As empresas químicas fazem parte do conjunto da sociedade que tem como objetivo primordial promover o bem-estar, criando soluções para os problemas que ainda não foram resolvidos e devem estar inseridos num contexto de desenvolvimento socioeconômico sustentável. É real e urgente a necessidade de processos mais limpos que utilizem novas fontes energéticas e reagentes mais baratos, menos tóxicos, com diminuição da quantidade de rejeitos gerados, mesmo que em algumas situações os processos que geram menos resíduos sejam mais caros. As políticas industriais devem estar em consonância com as questões ambientais.

A concepção de uma Química limpa e ambientalmente mais recomendável passa necessariamente pela vontade política dos países que devem associar os aspectos econômicos com educação ambiental de qualidade, substituição de combustíveis fósseis e de processos químicos ultrapassados. Porém, o mais importante de uma política industrial é que ela perceba que o lucro de alguns com degradação ambiental é prejuízo de todos.



Suzana I. Córdoba de Torresi
Vera L. Pardini
Vitor F. Ferreira
Editores de QN